24 de janeiro de 2011

ALI


Ali
permite-se
ali
as princesas
não
choram
nem
ralham
apenas suspirarm
apenas murmuram
através
das cinzas.
É terra
de ninguém
é terra
de alguém
que suportou
a carga
e
reagiu
e
partiu
e
conseguiu
que
o enxame
de mariposas
atravessasse
o bater
da
alma
da
minha princesa.

22 de janeiro de 2011

IMAGEM


Sentir

os teus lábios

permitir

o abrigo sentido

balançar

desamparada

nos teus braços

caindo

ao de leve

no ocaso

que acolhe

o despedir

de alguém que brilhou

no desafio.

Esperar

a hora

que espera

o realizar

dum bater de brilhos

que ofuscam

a memória.

Lá fora

a glória

ultrapassou a história

e rectifico

os sons

do meu relógio.

Não há

hora para o amor
sómente
o bater
dum tambor cadente
persistente
que desencandeia
a roda da volta
da liberdade suada
que magnetiza
o encarar permissível
de aproveitar
na hora
esse amor.

PECADOS

pecar
não molha
não suja
nem torce
pecar
aperta
supera
espande
garante
o
alívio tardio
de esperanças
devolutas
recalcadas
desorientadas
dum
rumo
pervertido
de
sentidos
alheios

TERRA

Terra
que me
perguntas
questionas
e
defines
o rumo
do ritmo
das
cinzas
segura-me
na mão
puxa-me
do pontão.
Agarra-me
terra
devoluta
sortuda
que
a
luta
perdura...

19 de janeiro de 2011

SOLFEJO DE SENTIMENTOS


Sentimentos,
delícias partidas
numa bandeja,
apenas parecem
pedaços
adquiridos
em províncias tardias.
Sentimentos,
dignos
de ti,
de mim,
de nós,
para nós,
que o começo
balança,
que
agora
já avança,
e o
sentimento voa,
livre,
sem norte.
Existe
o porte,
existe
o norte,
e o
voo é distinto
preso
em almas sózinhas
capazes
de apostar
em algo
que desencandeie
o instinto...
Ofereço-te
sentimentos,
ofereço-te
momentos,
velozes
como
uma vela deslizante
na beira
dum
sossego cativante.
Doravante,
o sentimento
será
no momento
e sem
derivante...

DANÇA


Dançar
com lobos
abafar
a selva
de areia
pisar pedras
derrubar montes
e
rolar
em vales
de liberdade.
Parte
velozmente
embrenhada
em setas
despertas,
o lobo
espreita
a ave
não
espreneia,
o fogo
a lamentação
a sedução
agarra
o pano desfiado
em pleno combate.
Desfaz-se
o laço
encontrado
no acto.
O lobo
avança...
Dança, dança
com o lobo
enquanto
a ave
se esgueira!

RIMA FELIZ


Cada pétala
que cai
envolve
a
tua mão
aperta-me
o
coração
e
deixa-me
ir
de encontro
à
solução

TU ÉS TUDO


Tudo passa
tudo espalha
tudo se torna brasa
tudo perde a causa
tudo acontece
tudo apetece
tudo arrefece
tudo aperta
tudo afecta
tudo penetra
tudo afaga
o meu coração
vindo de ti
mesmo sem ti

17 de janeiro de 2011

A MOSCA

A
mosca picou-se
zuniu
e desilidiu
os presentes.
Questionaram-se!
Revoltada
a mosca
destratava
o momento
posicionando
em formas esquivas
o interior
do seu universo
sem verso!
A
mosca é maluca!
Está tonta!
Bêbeda
saltita
agora feliz
os picos
abastecem-se
de azeite
e desapertam
o cinto
espreguiçam-se
alagam
o espaço
onde
a mosca distraída
rolava-se
perdida.
O
mundo acabou
soprou o vento
sorveu-se
o resto
e o
que faltava acrescentar
aos anais
e a
mosca pulou
gritou
saudou
e
levou o poço delambido
partido
e
esquecido
onde
a rolha oca
iluminava
sómente
com um pavio.

COMO É BOM ESCREVER


Como
é a dor
sem sofrer
como é o bater
sem dor
como
é o saber
como
é o perceber
como
é o aparecer
como
dói o desgaste
o empate
que fica
surdo
dentro de nós
como
é a firmeza
para
fazer transparecer
para
receber
como
é bom escrever

CEMITERIO

Terreiro
sem adultério
fruto
do mistério
que
sobrevoa
a foz
do inicio
parcela
dum estofo
longo
em que
não existe cancela
nem
sopro
nem
folgo
surpreendentemente
com
força estridente
a terra
esvai-se
esbroa-se
para
aqueles
que
crêem
e
lêem
no
sacrifício
que
velozmente
ampara
a
vibrante delicadeza
da
mais
profunda
causa
da nossa existência

FRACÇÕES


Esqueci de sofrer
esqueci a lareira
e abracei a clareira
larguei as mãos
poisadas em ti
num recanto
onde
o sufoco não existe
existe clamor
louvor
e a dignificação
das posições
é
algo
que me passou a fascinar
estar agora
sómente
agora
estar
deixar
encantar as fadas
os sonhos
os proveitos
saborear
a cauda do véu
que rompeu
e
deslaçou vidrado
num chão
que jamais pisarei
encanto terno
solução abreviada
ou
por acaso
ou
não
consegui estar
e
estou
agradada
descansada
como um suave deslize
que embaraça
o
teu olhar